segunda-feira, 1 de junho de 2015

Erick Pereira diz que minirreforma institucionaliza as doações ocultas

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Veja – Enquanto o Supremo Tribunal Federal (STF) se prepara para julgar uma lista de políticos envolvidos no petrolão, a Câmara dos Deputados aprovou na última quarta-feira um novo formato de financiamento eleitoral que pode abrir um perigoso precedente para as chamadas doações ocultas. A medida recebeu o aval de 70% dos deputados presentes na sessão.
O texto avalizado pela Câmara parece trazer uma mudança pouco significativa em relação ao formato atual: mantém o modelo de financiamento misto, com doações de empresas e pessoas físicas, mas, em uma regra alardeada como verniz de moralidade, determina que apenas partidos podem receber dinheiro de pessoas jurídicas. A medida foi anunciada como uma forma de impor maior controle ao repasse de recursos.
A proposta, contudo, abre uma lacuna na fiscalização da origem das doações porque não determina as regras para a distribuição dos recursos captados. Nas últimas eleições, oito meses antes do pleito, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) publicou uma resolução na qual determinou que os partidos políticos precisaram declarar à Justiça o valor que os comitês destinaram aos candidatos, explicitando as empresas e os valores doados.
Porém, nem mesmo essa resolução – válida apenas para as eleições do ano passado – coibiu a doação oculta. Os partidos amealharam recursos de diversas fontes, como do fundo partidário e doações de empresas, e posteriormente partilharam o dinheiro com os candidatos como bem quiseram. “Na hora em que o partido recebe um volume total, não tem como garantir a real origem do recurso que chegou ao candidato e se aquela empresa está se beneficiando de um determinado mandatário. Pode ser feita uma mistura de modo a transformar uma arrecadação lícita em algo problemático”, afirma o advogado Erick Pereira, doutor em direito constitucional e autor do livro Direito Eleitoral: Interpretação e Aplicação das Normas Constitucionais-eleitorais.
Ao prever apenas o direcionamento dos repasses para partidos, a emenda aprovada na Câmara sequer replica os dispositivos previstos na resolução do TSE. Para o jurista, a proposta aprovada pelos deputados “institucionalizou as doações ocultas”.